(esse editorial foi publicado originalmente no Bigspin Bulletin, newsletter quinzenal da galera da SAT. Nós roubamos porque quem escreveu é um dos nossos e estávamos tempo demais sem postar por aqui)

A  identidade de uma marca de skate se constrói em cima do seu time. Ponto. Óbvio que a forma de editar um vídeo, anúncios icônicos ou mesmo gráficos clássicos fazem parte desse processo. Mas nada disso faria sentido sem o skatista em si.

A Blind na época do Video Days com Mark Gonzales e Jason Lee, a Foundation com Ronnie Creager, as irmãs Girl e Chocolate que eram um all stars absurdo nos anos 90 e 2000… Essas marcas tinham a cara dos seus times.

Só pra provar meu ponto, sempre que um skatista importante pra uma marca sai, a gente fica especulando onde faria sentido aquele cara entrar, sendo que o caminho normal às vezes é criar uma marca nova, do zero.

Esse caminho foi seguido por Brian Anderson quando fundou a 3D (que durou pouco, infelizmente), ou a Alien Workshop que, ao acabar, deu origem à Quasi de um lado, e a retomada da Fucking Awesome do outro. Já a Alien, ao retornar com um novo time, claramente não é a mesma marca de antes.

Mas o ponto que quero chegar é: como manter um legado através dos anos? Como manter a identidade quando alguns vão se aposentando e você precisa apostar em novos nomes? O que temos visto nos últimos tempos é a formação de uma nova geração que provavelmente vai ser adorada lá na frente.

A Baker por exemplo, não poderia colocar moleques que não abraçassem o estilo de vida dos caras (mesmo com Reynolds, Dollin e Spanky, agora, limpos). Daí entram Kader, Zach Allen, T-Funk. A já citada Girl, que foi depenada na última década, tenta se reerguer tendo Griffin Gass, Niels Bennett e Breana Geering no front.

E não são só as marcas de shape que fazem isso, como pudemos ver recentemente com a HUF incluindo dois novos nomes no time: Carl Aikens e Erik Herrera, ou a adidas que, horas antes da escrita desse texto, anunciou Kader como mais novo membro da família.

Inclusive preciso aqui abrir aspas pra dizer que talvez a adidas seja uma das empresas que melhor consegue administrar esse equilíbrio entre nomes de diferentes gerações, seja com Gonz e Marc Johnson, passando por Busenitz e Silas Baxter-Neal, até a molecada como Na-Kel, Tyshawn e agora Kader.

Mas o que a adidas tem? Dinheiro! E é por isso que essa é uma situação mais difícil de se ver no Brasil, até porque quantas marcas conseguem passar pelas décadas permanecendo inteiras? Eu, que ando de skate há menos de 10 anos, já vi algumas nascerem e morrerem, imagina quem está aqui desde os 90?

De todo modo, seria injusto não citar os trabalhos da CONS BR, que tem Biano Bianchin em total atividade enquanto apoia a moçada, e da ÖUS, que segue um caminho similar com um time diverso de idade. Ato fundamental, porque skatistas não são peças que você abandona quando envelhecem pra colocar gente nova.

Isso é algo que pensei enquanto conversava com alguém que já fez muito pelo skate brasileiro, o Serginho da Crail. Novos e conhecidos nomes podem e devem coexistir. E a identidade é uma preocupação, afinal, mesmo que a Agacê, por exemplo, estivesse com grana pra chamar gente pro time, não é qualquer um que ia aguentar a camisa da firma, que, vamos combinar, é das mais pesadas.

Enfim, se você reparou, essa edição do BB foi recheada de “marca x introduz skatista y” (aliás, não falamos da Real incluindo Patrick Praman, mas assista. Sério!). A própria Toy Machine separou uma sessão do Vaccine só pros flow! O skate está crescendo na nossa frente, está mudando com o tempo.

Recentemente, aliás, foi muito massa ver a Mycrocosmos iniciando seu time com dois nomes de diferentes gerações: Gian Naccarato e Gui Silva. É a “Brasanation” que deixou os gringos caretas nas antigas, e a que vai revolucionar de novo. São inúmeros manos e minas por aqui.

A gente dificilmente vai ver o Ed Templeton andando pra caralho de novo, ou o Tommy Guerrero soltando part. Mas eles são fundamentais pra definir quem será a nova cara do skate global, os novos ídolos de uma geração. Vitória Bortolo sintetizou isso bem na frase: “De repente eu estava pedindo vela pra galera que era pôster do meu quarto”, usada como pensamento do dia pela Black Media.

No fim, sei que saudosismo existe, que é triste ver uns caras parando, e muitos vão dizer que nunca mais vai existir uma part como a do PJ Ladd no Wonderful Horrible Life, ou do Pat Duffy no Questionable Video. Mas, no fundo, a gente sabe que isso não é verdade, porque o skate do futuro tá batendo na porta, e que apesar dos pesares de um mercado abalado, estamos no auge.

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