Esse ano tem eleição no país Brasil, já tivemos o primeiro debate entre os candidatos à presidência, já estamos no ritmo de passar raiva com algumas declarações no grupo da família no “zap” e mesmo em 2018 parece que a galera do skate ainda não entendeu.
Recentemente, passeando pela rede social Twitter, apareceu na minha timeline um tweet do Tommy Guerrero e enquanto dava RT, fiquei pensando como pode uma foto em preto e branco de uns 30 anos atrás “carregar” um discurso que ainda é necessário 30 anos depois? Essa foto é antiga, a questão apontada ali é antiga, o país é outro mas essas discussões ainda tem que ser levantadas, dentro e fora do skate.
There’s no ALTternative.✊?✊?✊✊??️??? pic.twitter.com/iSWX2pXffK
— tommy guerrero (@tommyguerrero) 12 de agosto de 2018
Se o skate é colocado muitas vezes como um movimento de contra cultura mas não se posiciona, não se coloca no lugar de quem está ao seu redor, não questiona os valores já instituídos estruturalmente na sociedade, ele não cumpre sua função por completo. Falta algo e pra não perdermos esse espírito, é necessário começar de algum lugar, nem que seja aprendendo o significado de empatia ao invés de aprender só o posicionamento dos pés no vídeo “how to kickflip like não sei quem”.
A contracultura pode ser definida como um ideário altercador que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental.
Definição de contracultura segundo Wikipedia.
A minha, a sua, a nossa realidade, é diferente de qualquer outra pessoa. Nem meus pais, nem o pessoal da squad, nem o morador de rua que fala que já deu muito “flop” quando era moleque, muito menos meus vizinhos, ninguém vive a mesma realidade e a gente tem que entender isso pra partir pro próximo passo que é se colocar no lugar do outro, não só em questões politicas mas também no dia a dia.
A gente tem em nossa essência e em nossa história, o confronto a ações repressoras/conservadoras, desde invadir piscina pra andar de prancha com truck e rodinha, até confrontar o segurança do prédio comercial pra filmar alguma coisa. Mas nunca se resumiu apenas a manobra. Levantar algumas bandeiras como causas sociais, defender minorias ou confrontar movimentos conservadores, são coisas que têm de continuar acontecendo, indo pra além de manobra.
Há 25-30 anos, Jim Thiebaud, skatista profissional na época, dono e sócio da Real, lançou seu shape com um gráfico de um integrante da Kun Klux Klan enforcado. Numa recente entrevista pra Solo Skatemag, Jim relatou que chegou a receber ameaças de morte em cartas depois que saiu esse modelo. Recentemente eles relançaram o mesmo gráfico e obviamente, ainda hoje, eles são criticados.
“We make mistakes, we do dumb stuff, we do bad stuff at times but underline we try to do really good shit. […] You are supposed to take a fucking stance.”
Jim Thiebaud em entrevista para a Solo Skatemag.
Se em 2018 a segregação e preconceito com diversas minorias ainda persiste e, quando alguém resolve se posicionar a favor desses grupos ou contra ideias conservadoras, temos isso como um problema, temos que dar um passo atrás e repensar nossos atos.
Nosso meio é preconceituoso, nós somos extremamente retrógrados em vários aspectos, machistas, misóginos, homofóbicos, racistas e obviamente isso vai além do momento da sessão.
A repercussão que a ilustração da Dea Lellis na capa da Vista 50 gerou quando saiu só reforça que a gente ainda tem muito que melhorar. Na entrevista do Flávio Samelo pra Black Media no TGBMWSSS S01E04 ele conta como as pessoas reagiram, pela internet e também pessoalmente, com um papo totalmente conservador, se não fascista.

Não da pra se fechar nisso de que isso aqui é só remar, crew, filmar, cair, manobrar, “tey tey tey de passagem”. Não da pra ficar defendendo coisas que prejudicam ou diminuem outras pessoas, ou pior, levantando bandeira de pessoas e ideais que acabam se voltando contra nós mesmos.
O Filipe Maia do Trocando Manobras falou como isso pode voltar contra nossa comunidade em sua coluna da CemporcentoSKATE, lá atrás em 2016, citando governos conservadores e militares que proibiram a pratica de skate em algum momento.
Nós somos um organismo vivo que nasceu enfrentando imposições de uma sociedade conservadora e deve se manter assim, incomodando quem tem que ser incomodado e não quem ta em uma luta paralela, se não a mesma que a nossa. Atacar quem está conosco no lado mais fraco da corda, é auto-sabotagem.
“Me surpreende muito ver pessoas que se dizem skatistas apoiando políticos que defendem a segregação, o racismo, a homofobia e, principalmente, a intervenção militar.”
Filipe Maia em sua coluna na CemporcentoSKATE – Edição 197 (junho/julho 2016)
O ano é 2018, as eleições são em outubro e eu espero não precisar compartilhar esse ou nenhuma citação dessas daqui há 2 anos.