Este texto que você tá lendo (e espero que vá até o fim) começou a ser escrito em Agosto do ano passado na tentativa de colocar pra fora uma opinião sobre o universo do skate e de tabela garantir um textinho pra esse site lindo, que na época era só uma ideia. Alguns meses depois cá estou olhando monte de palavras que não saiu e acho que ainda dá pra aproveitar alguma coisa disso, então aí está, garanto que ao final não terão perdido o vosso precioso tempo. Acho. Ah!, esse “artigo” não é um ataque direto a nenhuma marca, inclusive se mandarem mimos a gente até cogita apagar isso aqui.
No dia 10 de agosto de 2017, foi anunciada a saída de Klaus Bohms, Murilo Romão e Glauber Marques do time Element Brasil. Alguns desses skatistas estavam na marca há mais de 10 anos, e segundo o post de Klaus nas redes sociais, os caras foram informados sobre a saída por representantes do Marketing da empresa, sem a preocupação de uma reunião ou conversa mais séria. O acontecimento só me fez ver o quanto é importante pensarmos, mesmo que por cima (afinal ninguém aqui é especialista em nada), como as operações de marcas voltadas ao skate funcionam no Brasil e fora dele.
O maior país da América do Sul possui, segundo pesquisa feita em 2015, 8,5 milhões de praticantes de Skate, sendo um grande atrativo para o mercado, o que a princípio é ótimo. O problema se dá quando marcas nacionais se perdem na gestão, e marcas internacionais montam operações em solo brasileiro, sem se preocupar com quem estará na linha de frente. Esse é um papo que muita gente tá cansada de ouvir, mas o exemplo da Element Brasil é só mais um dos vários casos de empresas que perderam a visão do skate dentro de suas operações e viram seus skatistas como funcionários descartáveis num sistema corporativo. Hoje em dia diversas marcas menores vão surgindo objetivando lucro e vendo no skate uma forma fácil de ganhar dinheiro
A Element, com mais de 20 anos no mercado norte-americano possui hoje um dos time mais diversificados e adorados do mundo do skate, incluindo o renomado atleta Nyjah Huston (rs). A empresa hoje pode ser considerada um dos fortes pilares na fabricação de shapes e reconhecida por sua qualidade, isso ninguém discute. Já no Brasil as coisas são um pouco diferentes… Por aqui a marca realmente tem grande visibilidade mas trabalha o seu marketing de outra forma, e tendo como público alvo qualquer pessoa interessada em streetwear, a marca é vista no shape do skatista, mas também na mochila do estudante do ensino fundamental que nunca deu ou tentou dar um ollie (o que não é um problema, isso pode ser discutido outra hora). Apesar de financiar campeonatos como o Make it Count, a marca por aqui nunca aparentou se propor ter o skate como foco principal, mas sim como plataforma para se lançar num mercado mais amplo.
Por outro lado temos marcas que se preocupam em montar uma equipe oriunda do skate, com o propósito de levá-lo ao topo, sem esquecer que empresas são empresas. Mas isso seria a solução para o sucesso? No primeiro semestre de 2017 a LRG Brasil encerrou as suas operações, após mais de um ano trabalhando de forma incrível com Roger Mancha à frente. O cara conseguiu criar uma identidade única sem esquecer dos pilares que formavam a sua matriz (de origem norte-americana), tendo um time de peso, produtos de qualidade, tours em locais diversos e colabs de tirar o chapéu (algumas que estariam na cabeça do povo, mas que não saíram do papel).
O ponto é que o Mercado é uma via de mão dupla, onde de um lado estão os consumidores (e se tratando de skate, esses geralmente ultrapassam o mero espaço de só comprar), e do outro as empresas, que muitas vezes não veem no skatista mais do que uma vitrine. É muito complicado pensarmos que marcas não valorizam seu time de skatistas e os descartam sem pensar que os mesmos são fundamentais para o bom funcionamento dos negócios, e olha que aqui estou tirando todo o caráter humano por trás das relações entre as partes.
Por que algumas marcas vingam e outras não? O skatista brasileiro está interessado no que consome? O marketing e a ideologia são suficientes para uma marca funcionar em terras tupiniquins? É necessário que os que administram uma marca sejam oriundos do skate? Todas essas questões são muito difíceis de se responder, mas se houvesse mais comunicação entre quem tá lá em cima e quem tá aqui embaixo, talvez surgisse caminho mais claro pra um skate mais consciente, fluido e funcional.
Já que provavelmente isso aqui não vai chegar na tela de nenhum engravatado dentro das corps, o papo vai pro skatista comum, que tem muito como contribuir, seja pesquisando sobre as marcas e tendo noção do que está comprando, apoiando quem está na rua e faz pelo skate, usando as redes sociais pra se informar sobre os acontecimentos e não só dar like em instavídeo ou comentar na foto daquele tênis hypado da loja do centro. Conhecimento ajuda e está aí para ser compartilhado.
Em resumo, o lance é que eu tô falando tudo isso sem nunca ter pisado dentro do HQ de uma marca grande ou trocado ideia com um brand manager (custa chamar de gerente?) e talvez por isso não consiga dar as respostas pras perguntas acima. Mas como consumidor eu acho que é importante deixar registrado que a gente não engole qualquer coisa que aparece no outdoor por aí não. Importante também falar de novo que esse texto não tem como objetivo atacar a Element ou nenhuma outra marca especificamente, mas só a usei de exemplo de sintoma de uma doença bem maior.