Skate é patrimônio

No fim de semana dos dias 17 e 18 de agosto rolou a Jornada do Patrimônio de São Paulo, um evento organizado pelo Departamento de Patrimônio Histórico e que tem objetivo de explorar a cultura, memória da cidade.

A jornada, que rola desde 2015, tem programação pra tudo que é gente, mas esse ano rolou uma ação especial pra nós skatistas. Murilo Romão, skatista profissional e flanante, abriu uma atividade onde decidiu numa caminhada pelo centro de São Paulo, discutir a relação entre o patrimônio da cidade e os skatistas.

E lá fomos nós, acordar cedo em pleno domingo, pra andar de skate e aprender um pouco. Desse rolê saíram algumas fotos, reflexões, e uma entrevista rápida com o “flâneur-mor” que você confere abaixo:

Sr. Romão no viaduto do chá durante a Jornada

Como foi o processo de desenvolver o projeto e enviar pro DPH-SP. Já tava planejando isso há um tempo?

Não tinha planejado não, eu sou um grande fã da Jornada desde seu surgimento e aí vi pelas redes sociais que as inscrições estavam abertas e resolvi mandar esse roteiro de memória que é uma das categorias, era um editalzinho bem simples, digital mesmo. Eu sempre achei que o skate praticado no centro há tantos anos e com tanta historia merecia um roteiro, mas eu não fui muito atrás disso, foi acaso mesmo, ai quando vi que passou comecei a correr atrás de como eu organizaria as informações e o trajeto. Eu tava um pouco ansioso mas deu tudo certo no fim.

Conta um pouco sobre a parte de obter fontes, tipo as revistas, informações históricas sobre os picos…

Essa parte de pesquisa é algo que eu já faço naturalmente faz um tempo, precisei dar uma refrescada em algumas partes pra entender melhor o que rolou em cada época. Sempre me interessou a história dos lugares que a gente anda e como chegamos até aqui. Mas com certeza foi muito importante as teses de pesquisadores do skate como Leonardo Brandão e Giancarlo Machado que são doutores, e também todas as mídias especializadas que contam capitulo por capitulo a historia do skate no brasil.

Impresso distribuído entre os que colaram

Qual a importância das relações pessoais (simbólicas) na formação de um patrimônio histórico? Tipo, a importância deles não é dada só pelo valor material e histórico, mas também pelas vínculo que as pessoas têm com a cidade?

As relações pessoais configuram o patrimônio imaterial, que é definido por hábitos, costumes e manifestações culturais de determinado grupo na cidade, e sim o vinculo com a cidade é essencial tanto no imaterial quando no material que aí sim tem mais a ver com os lugares que passamos, ou seja a prática do skate está inclusa nos dois tipo de patrimônio, material e imaterial.

Você acha que a situação no Vale deu uma despertada nos skatistas pra pensarem sobre o papel deles como atores sociais importantes no desenvolvimento da cidade?

Sim, eu acho que vai incentivar muita gente a se organizar pra tentar mudar os planos do poder público, somos muitos, pensa no skate day, imagina todos esses mobilizados por uma causa.

Concentração em frente a Catedral da Sé, ponto de partida da caminhada

Tenho a impressão que todo esse rolê (Vale) foi como a faísca num barril de pólvora. Concorda? Digo isso no sentido de pensar o lugar que os skatistas ocupam VS o lugar que o poder público quer colocar os skatistas.

Faz sentido sim, eu acho que devagarzinho a gente vai conseguindo explicar nossa prática na rua, é complexo mesmo entender, pra eles nos colocar em pistas é a melhor solução, vai da gente também saber propor alternativas, pensar em projetos diferentes de plaza mais criativa que seriam atraentes até para os rueiros. Precisamos aproveitar o crescimento do skate com toda essa história de olimpíada para fortalecer a essência, achei muito bom participar da jornada porque coloca o skate em outra chave que não somente a do esporte.

Por fim, como você vê o posicionamento político dos skatistas daqui pra frente. E nem tô falando de partidarismo, mas da participação política mesmo. Mobilização, pressão pública, etc.”

Eu acho que os skatistas estão cada vez mais se politizando assim como a sociedade também, só o ato de ficar o dia inteiro andando nos picos já é uma uma super atitude política, e sobre a pressão popular eu não sei se teria pique pra fazer toda essa mobilização do vale se fosse outro pico, eu fiz porque sei do valor do vale para a cultura do skate e fiquei realmente chateado com essa historia toda da destruição, então foi um jeito de transformar esse sentimento em energia para mobilizar geral e tentar promover alguma mudança. Acho que podemos nos organizar muito melhor para melhorarmos as condições da cidade, porque antes ou depois de sermos skatistas somos cidadãos.

O Romão ultimamente tem ganhado destaque pra além da prática do skate em si. O coletivo Flanantes tem lançado produções audiovisuais desde 2015 onde apresenta entre manobras (e que manobras… só as 🔨🔥💥 💣) discussões sobre urbanismo e ocupação das cidades, embasadas no trabalho de pensadores importantes como Paola Berenstien, Jane Jacobs e Guy Debord.

Além disso o Murilo foi um dos skatistas que tomou a frente no processo de luta pela memória do Vale do Anhangabaú, pico clássico que foi destruído, mas que graças a ele, Formiga, Klaus e outros, será reinterpretado num projeto desenvolvido em colaboração com o arquiteto e também skatista Rafael Murolo, que trabalha na SP Urbanismo e abraçou a demanda dos skatistas. Um bom resumo pra quem não acompanhou foi feito pelo Sidney Arakaki, e pode ser encontrado aqui.

Como experiência pessoal foi muito foda pensar coletivamente a importância que o skate tem pra cidade e vice-versa. Pra gente parece automático, estamos nas cidades, fazemos uso delas, e é isso. Só não podemos esquecer que elas estão em constante transformação e nós também devemos ser responsáveis por parte desse processo.

Fotos digitais por: Matheus Stuque e Polaroids por eu mesmo.

1 thought on “Skate é patrimônio

  1. mais uma vez um texto e um trabalho foda de vocês Esquadrão!
    Animal o conteúdo que o Murilo disponibilizou, não pude ir, mas o trampo de vocês traz muita informação dahora e relevante sobre o skate.

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