SQUADLIST #1 – Baker 3

O skate é um movimento que esbarra em diversas artes e uma das mais importantes nesse meio é a Música. Além da existência de skatistas que são músicos e vice-versa, ou a escolha do som pra tocar no fone durante a sessão, a música é parte fundamental dos vídeos de skate, servindo de trilha pra embalar as tricks exibidas. Existem video-parts e até full-lenghts que são eternizados, para o bem ou para o mal, pela escolha das músicas. Eu mesmo conheci várias bandas absurdas através de vídeos de skate (obrigado em especial à Emerica pelos acertos).

Tendo isso em vista, a ideia aqui então é pegar, periodicamente — sem compromisso com prazos ou datas definidas —, um vídeo de skate clássico e falar um pouco sobre as músicas que o compõem, os artistas ou bandas e de quebra dar pra vocês uma playlist com os sons compilados para ouvir no rolê, no busão ou só pra conhecer alguma coisa nova.

E o escolhido da vez foi Baker 3 (2005), considerado um dos melhores lançamentos da década para alguns o melhor — é um daqueles full-lenghts clássicos com média de 1h de duração, coisa inimaginável pra galera da minha geração acostumada a clips no instagram. Mas a trilha aqui tem relevância no papel de não te deixar cansado olhando pra tela, se bem que eu duvido alguém dormir num vídeo desses.

A intro já começa com “I Can’t Hardly Stand It”, clássico country do Charlie Feathers, mas que pra deixar sujo e combinar com o time, escolheram o cover do The Cramps, presente no album Bad Music for Bad People, dando uma graça maior enquanto o time é apresentado da forma mais porca e irreverente possível, em níveis à la Jackass. A banda californiana teve grande influência no movimento punk da década de 70 nos EUA, que por sua vez é referência clara de estilo para alguns dos skatistas da Baker.

Logo em seguida, com “Street Hassle” do mestre Lou Reed, temos a part do Erik Ellington, escolhido para abrir o vídeo. O violino da canção de Reed, — que acaba aparecendo antes de praticamente todas as demais partes — parece não fazer muito sentido com o estilo do loiro cabeludo e o clima muda rápido quando entra “Reckless Life” do Hollywood Rose, banda predecessora do Guns n’ Roses. Eu particularmente não gosto da voz do Axl mas não tem como dizer que ver o Erik pulando escadas ao som de hard rock não faz sentido. Bônus pra música encerrando junto do big spin de back no Carlsbad que, irmãozinho, é bem bonito.

A part seguinte é a do Jeff Lenoce, que basicamente é um branco andando com rapzão de fundo, “The Last Rap I’ll Ever Write” do Andre Nickatina. Desculpa, mas é só isso. Nada mais a considerar. Já a faixa, não destoa muito dos raps da costa oeste do EUA do final dos ano 90.

Dando sequência, um dos mais retardados da crew, Braydon Szafranski, vem com “Under the Sun/Every Day Comes and Goes” do Black Sabbath e pqp, coisa fina. A música, que encerra o Vol. 4, disco de 1972 é absurda, a part é absurda, a sincronia no começo entre os riffs de guitarra e as batidas das manobras é bem legal também, enfim, skate rápido como deve ser.

Antwuan Dixon é o próximo e bom, naquela época ele era o que o Joslin representa hoje: moleque novo, hype enorme, skate impecável, a combinação perfeita pra começar uma “carreira”, que infelizmente foi interrompida alguns anos depois pela prisão dele. Mas falando da part no Baker 3, a música escolhida foi “Let’s Get It On (Dirty Harry Blend)” do Notorious B.I.G., outro que teve a carreira interrompida cedo. Quanto à qualidade, acho que nem preciso falar muito, só assistam. O beat começa com um kick no meio da linha e destaque para o nollie heel no Carlsbad. Podia ter fechado o vídeo fácil fácil.

Como escrito no começo, o vídeo é de 2005, ou seja, há 13 anos, e uma das coisas que ainda existiam naquela época eram os ossos e ligamentos do Dustin Dollin. Naquela época ele ainda era uma máquina movida a álcool e pra acompanhar as tricks e quedas, escolheu “Downfall” do Children of Bodom pra sua part. É vocal berrado pra lá, punhetagem de guitarra pra cá mas tudo cai como uma luva.

Uma escorregada dá início à sessão das crianças Theotis Beasley e Rammy Issa, que dividem uma part bem rápida ao som de The Commodores “Machine Gun”. Aquele funkzinho instrumental pra ficar balançando a cabeça diverte tanto quanto ver moleques andando como gente grande.

E falando em gente grande, o nome de Andrew Reynolds abre com o clássico flip de front no Hollywood High do nada, que explode com “The Bob”, do Roxy Music. Banda clássica, skatista clássico no auge, não tem como dar errado. Os sons de tiro e explosões que surgem no meio da música até poderiam servir de trocadilho com gírias juvenis e as manobras do Boss, mas não vou me prestar a esse papel. É isso, só assistam.

O que rola a seguir é uma das paradas mais divertidas do vídeo, que é a part do Terry Kennedy. Primeiro que é o retorno dele pra Baker depois de passar um tempinho na Element. Segundo o próprio Terry, escolher voltar “pra casa” foi o que o manteve no skate até os dias de hoje. Mas como o foco aqui é a música, essa é especial, já que a escolhida, “Well Off G’s” do Fly Society, grupo de rap que o TK faz parte, nunca foi gravada em estúdio. Ela basicamente foi feita PARA a part, logo, a única versão possível de ter no seu celular, mp3 player, walkman, toca-discos, etc… é a ripada do vídeo. Provavelmente essa seja a part com o maior número de “niggas” falados/cantados na história — segundo pesquisa feita pelo Instituto Squadshit de Pesquisa e Estatística —.

Um dos mais criativos do time, Kevin “Spanky” Long anda em parede, sobre banco, desce hubba de darkslide, tudo isso com Morrissey, “Glamorous Blue”, como trilha, e eu sinceramente não sei o que achar disso. Eu gosto do Spanky, gosto DAS MÚSICAS do Morrissey, acho que os dois combinam, mas a part não empolga. Provavelmente uma das mais fracas do vídeo. Pode ser opinião impopular mas pelo o menos aqui tem opinião!

Chegando pro fim do vídeo vem uma sequência fantástica que começa com Jim Greco, conhecido como The Hammer (tey tey tey *emoji de marreta*) que pra mim, tudo que ele solta é ouro. A música em questão, “Chinese Rocks”, do Heartbreakers, é um punk rock tradicional que faz sentido com todo o vídeo, mas o curioso aqui é o tema da música que fala sobre vício em heroína, fazendo contraponto ao estilo de vida que o Greco tinha acabado de adotar, escolhendo ficar sóbrio, e permanecendo assim até hoje, como se vê no curta Year 13, produzido pelo próprio.

E completando a dobradinha nada melhor que o dono do hardflip mais bonito, Bryan Herman, que tem a part mais bonita do vídeo e não, isso não é opinião, é fato. É tudo muito perfeito e ainda tem Bowie tocando velho. Toda vez que algum skatista escolhe Bowie como trilha eu fico feliz e o Herman mantém a tradição com The Width Of A Circle”, canção que dá uma energia diferente pras linhas e manobras. Por mim o filme podia acabar aqui que tava tudo certo, o que de certa forma acontece porque o BAKER 3 enorme aparece na tela anunciando o fim do vídeo. Mas ainda faltam duas parts.

Ali Boulala, o excêntrico francês pulador de escadas gigantes, faz as maluquices dele com um surf rock de boinhas do Dick Dale. “Peter Gunn” na real é composta para ser trilha sonora de uma série de TV de espiões bem 007 mesmo, mas combina bem com o jeito descompromissado do Ali.

E, por último mas não menos importante, Beagle. O próprio videomaker tem uma partzinha pra mostrar que não é bom só controlando a câmera. A música? “Smoke a Sack” de DJ Paul & Juicy J. Rap ruim demais vindo direto dos anos 90 mas que pra fechar um vídeo sem compromisso nenhum com a seriedade, vale e muito.

E assim encerra o clássico Baker 3, provando que vídeo de skate bom precisa de música boa também. A variedade de estilos dentro do time transparece na escolha da trilha que é tão diversa quanto, indo de Notorious B.I.G pra Bowie, pra Sabbath e de volta pra Commodores, sem perder entretanto uma harmonia do começo ao fim. Dá pra assistir e ouvir sem que tu torça o nariz estranhando alguma coisa. Essa sequência de músicas você pode conferir (quase) na íntegra pela playlist aqui em baixo. Boa sessão e até a próxima.

 

 

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