Hoje, 30 de Outubro de 2020, seria a inauguração do novo Vale do Anhangabaú, segundo o projeto aprovado e em desenvolvimento pela Prefeitura de São Paulo. Obviamente que isso não se concretizou, e na real nem faz diferença porque para os skatistas da cidade (e até os visitantes), parte do novo vale já está em uso há um tempinho.

Curiosamente, eu que nunca andei no Vale antigo, e que estava sem subir no skate desde março, dei meu primeiro rolê lá, na semana passada. E a sensação foi única. Primeiro porque depois de meses reencontrei amigos, conheci novos e fiz uma das coisas que mais gosto. Segundo que vi de perto a tão comentada reforma dos últimos meses que até então só via por fotos e instaclips.


Foto: Fábio Tito/G1 , registrada em 06/07

E o que ficou na minha cabeça é que é muito doido como o vale permanece velho mesmo sendo novo. E nem estou falando da política higienista e de gentrificação que está sendo aplicada, mas das relações e presenças. A ideia do projeto era reocupar o espaço, transformar o centro num grande boulevard, mas a real é que as mesmas caras permanecem lá, e sinceramente, isso é reconfortante.

Eu sempre passei na frente do vale, mesmo antes de andar de skate. Fosse em idas à Santa Ifigênia, ou na Galeria do Rock (quando era rockista), o espaço sempre esteve ali, monumental e ocupado, diferente do que o poder público diz. E ao começar a andar de skate, a visão do lugar se transformou.

O vale foi transformado por skatistas. As bordas das arquibancadas, que no início dos anos 90 não corriam tanto pela falta de vela, foram moldadas por décadas e décadas de manobras.

E falando em manobra, nunca fez sentido pra mim alguém conseguir andar lá. O mosaico de pedra portuguesa impedia de remar e os estreitos caminhos de rato mudavam de direção rápido. Fora as bordas que eram altas e escorregadias demais pra mim. Tudo era muito difícil. Nunca consegui andar. Nunca conseguirei.

Mas tudo bem, o vale se renova. Ele não era o mesmo há 30 anos e agora, novamente modificado, será reocupado por skatistas. O memorial conquistado na base do esforço coletivo encabeçado por caras como Murilo Romão, estará lá para lembrar o projeto inicial feito pela arquiteta Rosa Kliass e Jorge Wilheim. Essa luta aliás, está registrada no documentário dos Flanantes: “Valeros”, que teve premiere projetada no próprio Vale e rola assistir logo abaixo, pra entender toda a história.

Enfim, a real é que eu nem sei porque esse texto existe. A ideia dele surgiu logo depois de voltar do vale, alcoolizado e cansado das poucas manobras soltas no solo. Eu estava emocionado. O mix foi de tristeza com a destruição do centro, e alegria de estar de volta no skate, num pico novo, com pessoas que gosto e admiro. No fim das contas, é pra isso que eu ando de skate, e tenho certeza que o Vale proporcionou essa mesma sensação pra muita gente. Melhor, vai continuar proporcionando.

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